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Era uma vez um brócolo.
Chamava-se Zé Carlos.
Vivia muito só, no frigorífico de Odete.
Zé Carlos tinha como certo um de dois finais:
Ou era comido como todos os seus irmãos haviam sido, ou acabaria por ir parar ao lixo, depois de amarelecer, esquecido na gaveta dos vegetais.
Zé Carlos tinha muita dificuldade em fazer amigos e a vida dentro da gaveta dos vegetais não era fácil.Todos os dias era vítima de bullying por parte dos outros companheiros de gaveta.
As cenouras, altas e magras, umas tiazocas do pior, não se misturavam com ninguém ;
Os nabos,gordos,desajeitados e com pêlos no cu, eram sempre poucos e não chegavam a aquecer o lugar;
A alface, espaçosa, gostava de se ouvir e as suas folhas levavam dias inteiros a matraquear umas 'cajoutras ;
Os tomates andavam sempre em grupo e eram os piores . Batiam à vez no Zé Carlos relembrando-lhe que fedia e que ia ficar esquecido até ir parar ao lixo;
A beterraba aparecia de vez em quando mas era uma esquisitóide que estava sempre metida no canto dela. Zé Carlos ainda tentou uma vez qualquer coisa com ela mas a gaja estava com o período, maneiras que não rolou;
O alho francês,sempre com ar de rufia de cabelo espetado, muito alto e esguio,vivia atravessado na gaveta e com ele, ninguém queria confusões. Para além disso tresandava e portanto ninguém se atrevia a chegar perto;
A salsa, os coentros e a hortelã, fúteis, também conviviam apenas entre si e só falavam de perfumes.
E a vida do Zé Carlos era isto.
Sempre que a porta do frigorífico se abria, a vida do Zé Carlos ganhava outra luz. Não só porque a lâmpada do frigorífico funcionava bem mas porque o desgraçado acalentava a esperança de ainda vir a ter companhia .
E foi isso que um dia aconteceu.
Odete abriu o frigorífico e depositou na gaveta uma linda couve flor.
E Zé Carlos,como gajo que era, fez o que os gajos sabem fazer como ninguém. Em vez de aproveitar a oportunidade, fazer -se à couve e acabar com aquela solidão, o que é que ele faz?
Exato. Perdeu uma ótima oportunidade de ficar calado.
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