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Vai à faca? Guia de sobrevivência.

por Pequeno caso sério, em 12.07.21

Voltei, voltei

Voltei de lá,

Ainda "ontem" fui à faca

Mas agora já estou cá

 

É com este registo musical adaptado que anuncio que acabou o sossego por estas bandas. Espero que tenham aproveitado bem estes 40 dias de paz porque o registo diário de maluqueira está de volta.

Se já estou fina ? Ainda não.

Então porque é que voltei? Ah, isso só saberão depois de ler tudo até ao fim.

Se tenho assim tanta coisa para contar tendo em conta que já cumpri mais domiciliária que o Berardo e o Vieira juntos? Não. Mas como sou uma 'ssoa que gosta de espalhar o bem, resolvi deixar aqui cinco dicas para a malta que está em vias de passar por uma experiência semelhante à minha.

 

Dica nº 1: 

comam tudo o que têm direito antes de irem à faca. Acreditem, por melhor que seja, comida de hospital é sempre comida de hospital. Ainda neste capítulo certifiquem-se que têm roupa (e todo o tipo de acessórios) adequada ao pós cirurgia. E quando digo roupa, não me estou a referir àquelas merdas que usamos em casa. Refiro-me a roupa que possam levar à rua adaptada à vossa (ainda que temporária) nova condição física. Pode parecer parvo mas acreditem, não é. Esta que vos escreve nunca usou vestidos. Até agora.

 

Dica nº 2 :

por mais que o anestesista seja giro e simpático e diga que não vão sentir dor nenhuma, não acreditem. Ah, e se quando acordarem não sentirem as pernas, não se preocupem. Elas estão lá e funcionais...nem que só dêem provas disso 48 horas depois da cirurgia. Quanto às dores, é chamar as enfermeiras que elas resolvem. Peçam todas as drogas a que têm direito. Aproveitem agora que é legal.

 

Dica nº 3 : 

façam amizade com as auxiliares desde a 1ª hora (o mesmo é válido para as enfermeiras). É com elas que vamos contar para as coisas mais básicas como levantar/deitar. Eu espalhei logo charme assim que fui para o quarto após a cirurgia. A auxiliar soltou uma gargalhada quando me ajudou a levantar e eu lhe pedi que me desse a minha Louis Mijon, nome carinhoso com que batizei o saco coletor de urina. Contou às outras auxiliares e em menos de nada tinha uma legião de fãs que me ajudaram muito. Sobretudo nos momentos mais filhos da puta. 

 

Dica nº 4 :

aconselhem-se sobre cenas que facilitem a evacuação. Vão por mim. Começamos a pensar que é normal não fazê-lo logo porque não comemos o suficiente, ou porque não nos mexemos o suficiente, ou porque é da anestesia, enfim , tudo serve. Não vão nisso. É das experiências mais humilhantes ter de obedecer à mãe natureza quando se está suturado e não poder "colaborar " (sob pena de foder os pontos todos).

 

Dica nº 5 :

e para concluir o capítulo merda, não se surpreendam se à medida que o tempo for passando os telefonemas/mensagens forem diminuindo. Escrever cenas bonitas qualquer um escreve. Estar presente quando estamos vulneráveis e não podemos dar nada em troca, aí é que já é outro campeonato. Preparem-se para a desilusão de quem esperavam tudo e para a surpresa de quem com nada contavam. E isso dói tanto quanto os golpes que temos marcados... mas dado que agora temos todo o tempo do mundo para reparar nos detalhes que a loucura do dia a dia deixam encobertos, esta é a altura perfeita para separar o trigo do joio.  

 

 

- Ó Pequeno caso sério, 'tão mas tu disseste ali em cima que se lêssemos tudo até ao fim íamos descobrir porque é que voltaste a escrever no blog mesmo estando ainda toda fodida! Até agora não vimos nada!  - alvitram vocês sempre com esse ar de porteira desconfiada.

 

Calma.

Muita calma que o melhor fica sempre para o fim: 

 

Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta alegria que trago
Foi (também) de vós que a recebi

  

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14 comentários

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De Pequeno caso sério a 12.07.2021 às 22:53

Já não foi a minha primeira mas esta mexeu muito comigo...e também aproveitei tudo a que tive direito. Havias de ver os meus braços quando saí do hospital 🤦‍♀️

Podem ter-me tirado algumas coisas mas no humor ninguém toca.

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