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Saber esperar é uma virtude que não possuo.
Tenho muita dificuldade em gerir os tempos de espera (sejam eles quais forem) e pouquíssima tolerância para quem, deliberadamente, se atrasa. Se está marcado para as nove, então às oito e cinquenta já lá estou. Se chegarem às nove e dez é bem provável que já me apanhem de trombas.
Mas do que quero falar hoje é daquela sensação que se gera dentro de nós enquanto esperamos: o chamado nervoso miudinho.
Ora esta espécie de nerves (o nervoso miudinho, entenda-se) é coisa que ataca devagarinho e , sem darmos conta, se apodera de nós.
É uma unha que vai à boca; é uma perna cruzada que exibe um pé que abana 347 vezes por minuto; é um olhar para o telefone pela 10ª vez para verificar se não ficou sem bateria; é percorrer uma meia maratona no espaço de uma casa; é olharmos para o roupeiro e não ter nada de jeito para vestir; é o cabrão do cabelo que hoje, logo hoje, não está como queremos; é o bufar 33 vezes por minuto por merdas que não valem mesmo a pena; é o buzinar ao tipo que vai à nossa frente porque vai a pisar ovos (vai nada!); é o bater descompassado do coração porque a merda do jogo nunca mais acaba por milhentas coisas que não estão na nossa mão resolver mas que queremos que se resolvam como imaginámos.
Quanto mais longa é a espera mais o nervoso miudinho ataca. E não quero dizer com isto que só se fica assim quando se espera por coisas más. Antes pelo contrário. Dou um exemplo:
Ter alguém que nos é (muito) querido , longe , durante longas temporadas e que ,de repente , temos a hipótese de voltar a ver é coisa para levar o nervoso miudinho a toda uma outra dimensão. Conseguir conter um abraço que se tem guardado durante muito tempo não é tarefa fácil. Dizer tudo que tem para se dizer (nunca se diz…) e perguntar tudo o que se tem para perguntar é coisa para levar um tempo que a vida essa cabra que brinca deliberadamente com os timings não permite que se tenha.
É nessas alturas que entra o olhar. Esse sacana que não deixa escapar nada mas que consegue transmitir TUDO o que se precisa quer.
E é aqui minhas caras, é aqui ,(quando finalmente estamos em paz) que o nervoso miudinho desaparece e vai à sua vidinha.
E o que é que acontece a seguir? Ficamos de beicinho porque afinal até gostámos daquela sensação que já acabou.
E é isto. Ser gaja resume-se a isto. Ninguém entende. Nem nós.
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