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Dia dos finados é sinónimo de romaria aos cemitérios.
Digo isto não porque vá lá muitas vezes (porque não vou) mas porque passo todos os dias relativamente perto de um grande cemitério quando vou para o trabalho e nunca, repito nunca, durante o resto dos dias do ano vejo o movimento que vi hoje.
Não gosto de funerais pela mesma razão que não gosto de cemitérios : salvo raras exceções, soa-me a cinismo.
Durante muitos dias do ano as campas ficam ao abandono mas hoje, dia dos finados, os cemitérios parecem um enorme jardim florido.
Ganham as floristas (que vendem a dobrar), ganham os hipers e retails que vendem as tradicionais flores de plástico e ganham os " jornalistas "(porque têm "reportagens" para fazer).
Se acho mal as pessoas deslocarem-se ao cemitério ? Acho. Mas é a minha opinião. Respeito as outras mas não concordo com elas.
A meu ver, os cemitérios são um prolongar do sofrimento.
A campa.
A obrigação de ter de se lá ir.
O negócio que se gera à volta da morte é uma coisa que me revolve as entranhas.
Quis o destino que tivesse de lidar a morte demasiado cedo. Tinha eu 16 anos e o Miguel - o meu Miguel- 15. Só fui ao cemitério nesse dia mas quase todos os dias me lembro dele. Aquela morte repentina e a maneira com que tivemos de lidar com ela , moldou a minha maneira de pensar sobre muitas coisas .
As pessoas evitam falar sobre a morte. Acho honestamente que não devia ser assim.
Cá em casa (na minha e na dos meus pais) já estão avisados : se eu for antes deles não quero ser enterrada . Se o fizerem já avisei que volto cá para puxar o pé a toda a gente quando estiverem a dormir ! (Nada como um bom cagaço para fazer valer a nossa vontade.)
Quero ir para o "churrasquinho" e gostava que as cinzas fossem largadas em dois sítios específicos : metade no meu rio e a outra metade na minha serra. E pronto. Acaba tudo ali. Ficarão apenas as memórias. As boas e as más.
Sem campas.
Sem flores.
Sem visitas obrigatórias no dia dos finados.
Porque quando tudo acabar não serei mais que pó espalhado ao vento.
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