Pequeno caso sério

Tia visita o sobrinho Joãozinho que já não via há meses:

- Ai Joãozinho...'tás enorme rapaz! 'Cá bjinho à tia 'mor!

- Achas tia?

- Acho pois! 'Tás um homenzinho! 

-Oh tia mas eu só tenho seis anos! Como é que posso 'tar um homenzinho?

- Porque te portas como um crescido! A tua mãe já me contou que foste fazer o teste do Covid e te portaste muito bem!

- Ah ! Então é por isso?! Mas o teste do Covid não custa nada!

- Não custa?! Olha a mim custa-me!

-Já estou habituado. 

-Habituado?! Como assim? Mas não foi o primeiro teste que fizeste?!

-Não! Estou farto de fazer testes! E dão sempre negativo!

Envelhecer traz muitas chatices e é um facto que euzinha posso atestar com a crocância deste corpitxo assim que sai da cama. Mas, confirmando a lei da compensação, envelhecer traz também algumas vantagens. Reparem por exemplo no sentido da visão.

Se por um lado, a nossa capacidade de ver as pessoas fica assim...

... com a idade, ver através delas fica cada vez mais nítido.

Pois querido Rob, não sabias tu, nem sabiam os frequentadores desta casa que isto é gente que nunca sabe nada e se não sou eu, os assuntos fraturantes passam-lhes ao lado.

Não me estimem não.

Todos nós já tivemos aquele dia filho da puta em que nos apetece deitar tudo ao ar. Ir embora.

Quer seja no trabalho ou em casa, tenho a certeza que raros são os que nunca passaram por isso. As razões pelas quais não vamos mesmo são muitas e sobre elas, não tenho nada a dizer. Agora o que me encanita a rã é o seguinte:

SE UM CARACOL TIVER UM DESSES DIAS E QUISER FUGIR DE CASA, COMO É QUE FAZ ? 

Mãe vai às compras e leva atrelado o filho de 4 anos acabadinho de sair da pré-escola.

No decorrer das compras a mãe estranhou a ausência de birra e a pedinchice costumeira. Reparou então que o catraio olhava fixamente e em silêncio para uma senhora que se encontrava no supermercado:

A mãe tirou das prateleiras o que precisava e foi para a caixa. Quis o destino que a senhora viesse exatamente para trás deles na fila do pagamento. O garoto virou-se e continuou a olhar fascinado para a mulher. E foi só quando percebeu que estava na hora de ir embora que ganhou coragem e gritou : 

 -Adoro-te BATMAN!

Li-Na e Chonglin vieram estudar para uma faculdade em Lisboa. Colegas de turma (e naturalmente desenraízados) acabaram por se aproximar. Primeiro veio a amizade e mais tarde, começaram a namorar.

Problema? Eram ambos ciumentos.E é óbvio que com o tempo, a desconfiança trouxe muitos problemas à relação. Mas como gostavam tanto um do outro, empenharam-se em ultrapassar esse obstáculo. O amor falou mais alto e conseguiram.

Dá gosto vê-los agora.

Sempre enamorados e agarradinhos bem afastados da nuvem de desconfiança que em tempos ensombrou a sua relação: 

O amor é lindo, pois é? É pois.

E 'tarda nada é vesgo também. 

Carla Sofia chegou a casa exaurida dos 'nerves porque o seu carro empacou pela enésima vez. Apanhou o marido espojado no sofá a ver TV e sentenciou:

- 'Pá, tou fartinha daquele chasso! Mais uma vez deixou-me apeada! Que vergonha! Se não fosse uma carrinha com homens das obras a parar para ajudar ainda lá estava! Onde é que tens a merda do telemóvel?! Fartei-me de te ligar!

- Desculpa 'mor, deixei o telemóvel no trabalho e só percebi em casa. Como é óbvio, não ia voltar atrás só para o ir buscar.

- Pois! E aqui a parvinha que se desenrasque 'né?! 

-Desculpa 'mor...

-Desculpa a merda! Podias era  aproveitar o facto de eu estar quase a fazer anos para me surpreender com algo que vá dos 0 aos 100 em poucos segundos! Pode ser azul.

- Ok, 'mor. 

E Carla Sofia andou o mês seguinte na expetativa de ser surpreendida pelo marido.

E foi.

O marido ofereceu-lhe exatamente o que tinha pedido: algo azul que vai dos 0 aos 100 em poucos segundos:

Aparentemente o que está a dar agora com os cantraios pequenos é a Porquinha Peppa. E digo aparentemente porque já não tenho moços pequenos há muito tempo ( no tempo da minha era o Noddy e o Ruca).

Querem vê-los sossegados é porem esta porra no YouTube e garantem uns minutos de paz e sossego.

- Oh Pequeno caso sério, 'tão tu não sabes que não se deve incentivar o uso de gadgets nos miúdos porque isso vicia?!- perguntam vocês armadas em pedagogas que nunca souberam o que é ter um puto aos berros e a escorrer ranho só porque sim.

Mas pronto.

Desta vez concordo convosco.

De facto os gadgets viciam os moços pequenos. Mas há sempre alternativas mais lúdicas e que estimulem o intelecto. Que tal um puzzle?

Se os gaiatos não apreciarem, olha, faz-se empadão. 

Reza a lenda que os três Reis Magos vieram a pé, de longe, adorar e trazer oferendas ao menino. Seguiram a estrela que lhes dava a localização exata do salvador. Ofereceram a Jesus, ouro, como simbolismo da sua realeza; incenso, que simbolizava a fé e a mirra, como simbolo da sua imortalidade já que essa planta era usada na preparação dos cadáveres com o propósito de os conservar infinitamente. 

Hoje, o dia de Reis é mais um pretexto para continuar a enfardar. E apesar dos tempos serem outros, a lenda continua viva e os três reis Magos, com recurso ao GPS, já abençoaram a minha casa. Tenho quase a certeza que a vossa também:

Sabem aquelas 'ssoas mesmo chatas com quem temos de partilhar a mesa da esplanada?

Ou aquele lugar miraculoso que aparece na zona de restauração do Centro Comercial que nos obriga a ter de partilhar mesa com um estranho?

Pois é. São situações realmente constrangedoras sobretudo para quem gosta cada vez menos de pessoas.☝

No sentido de solucionar essas situações, descobri um escultor que se dedicou ao tema afincadamente. A obra de Michel Beitz é vasta mas destaco algumas opções que me parecem muito válidas: 

As mesas evita-conversas

A mesa deslarga-me da mão c'hoje 'tou azeda OU a mesa dos assuntos difíceis 

(para quem não percebeu, aquilo ali no meio é um nó)

E para terminar, uma sugestão muito válida para colocar nos jardins públicos onde as bélhas e os bélhos passam horas a falar de assuntos de merda  extremamente relevantes

Agora é entrar em acordo com o escultor e descobrir uma fábrica em Paços de Ferreira que produza isto baratinho.

Pequeno caso sério, a contribuir para a paz no mundo desde 1973. Praticamente uma Miss Universo. Tivesse ela mais 40 cm. E menos godilhões. 🙄

Máriza (assim mesmo com acento no "a" e com "z") tirou a carta e herdou do pai um chasso de mil nove e noventa e oito que o bélho estimava como se de um Ferrari se tratasse.

A moça ficou tão contente por finalmente ter a sua independência que a idade do veículo não foi questão imediata, até porque o chasso estava super estimado. 

Como todo o recém encartado, o que a rapariga queria era ir. E foi.

Ora sucede que numa dessas idas mais longas ficou sem bateria no seu i-coise. Procurou a porta de carregamento e quando a encontrou, enfiou para lá o telefone. Mas, para sua surpresa e desilusão, o carregamento da bateria foi zero.

Chateada com aquilo resolveu não dizer nada ao pai (não fosse ele levar a mal e retirar-lhe a generosa oferta) e tratou ela própria do assunto. Foi à primeira oficina que encontrou e disse :

- Olhe, sr. mecânico, veja lá o que se passa com a porta de carregamento da bateria do 'tfone porque, além de não carregar nada ainda me risca o ecrã todo...'tou cheia de nerves com isto!

O mecânico lá explicou que a parte eléctrica não era com ele. Chamou o colega eletricista que ao entrar no carro para perceber qual era o problema deu uma gargalhada que enervou ainda mais a pobre Máriza. 

- 'Tão senhor 'létcista, ri-se?! É assim tão grave?

- Não miúda, não te preocupes. Nada que uma power bank não resolva...

Ai Máriza, Máriza, sabes lá tu o que são nerves... havias de experimentar tirar uma BASF desse buraco e a puta da fita vir atrás.